sexta-feira, julho 25, 2025
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    Europa debate expulsão dos EUA da OMC em meio à crise de bloqueios e ameaças tarifárias de Trump

    Bernd Lange, presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu, revela discussões sobre medidas drásticas para reformar a OMC e estabilizar o comércio global contra a política “ilegal e injustificável” de Donald Trump.

    A comunidade internacional está em alerta máximo diante das crescentes tensões no comércio global, impulsionadas pela política unilateral dos Estados Unidos sob a administração Donald Trump. Em uma entrevista exclusiva, Bernd Lange, o influente presidente da Comissão de Comércio Internacional (Inta) do Parlamento Europeu, revelou a profundidade da crise que afeta a Organização Mundial do Comércio (OMC) e as medidas drásticas que a Europa está considerando para proteger o sistema multilateral.

    Desde 2019, ainda no primeiro mandato de Trump, a OMC tem suas decisões paralisadas devido ao bloqueio contínuo dos EUA às nomeações para o órgão de apelações, essencial para a resolução de disputas comerciais. Lange destacou que os EUA bloquearam a indicação pela 86ª vez e, além disso, não pagam suas contribuições à organização há aproximadamente dois anos.

    OMC em Xeque: Ameaça de Expulsão dos EUA?

    A situação é tão crítica que, segundo Lange, há “discussões agora acontecendo se devemos expulsar os EUA da OMC”. Embora a viabilidade jurídica dessa medida ainda seja incerta, a mera consideração reflete a exasperação global com a postura americana. “Temos 165 países no órgão e devemos construir em cima disso”, afirmou Lange, sugerindo que nações como Indonésia e Índia poderiam assumir um papel mais proativo na reestruturação da organização.

    O parlamentar alemão enfatizou a necessidade urgente de reformar a OMC e estabilizá-la, visando a próxima grande reunião em Camarões, em março do ano que vem. Para a Europa, que representa 15% do comércio global, o compromisso com o sistema multilateral é inegociável.

    A Estratégia Europeia Contra a “Coerção” de Trump

    Diante do cenário de incerteza e das “ameaças tarifárias de Trump” que “redefinirão o comércio global”, a Europa está agindo em múltiplas frentes. Além da reforma da OMC, Lange destacou a intenção de criar uma “rede de parceiros confiáveis” para dar previsibilidade aos investimentos e atuar como um elemento de estabilização.

    A União Europeia aprimorou significativamente suas “caixas de ferramentas de medidas defensivas”, uma lição aprendida com o primeiro mandato de Trump. O ponto central dessa estratégia é o Instrumento Anti-Coerção (ACI), uma legislação aprovada em 2023. Lange explicou que o ACI oferece uma “cesta de medidas possíveis” para reagir a ações coercitivas, não apenas dos EUA, mas também da China, que utilizou táticas similares no passado.

    O ACI permite à UE acionar barreiras não tarifárias, como derrubar patentes e propriedade intelectual, além de influenciar compras governamentais, em resposta a ameaças. Lange salientou que as contramedidas tarifárias já estão prontas, mirando produtos americanos de setores estratégicos como aço, automóveis, produtos agrícolas (como a soja da Louisiana) e bebidas alcoólicas (como o bourbon), e até mesmo têxteis.

    Brasil na Mira de Trump: A Importância da Lei de Reciprocidade Econômica

    A entrevista revelou que o Brasil está atualmente sob ataque, com Trump utilizando tarifas “não como uma medida econômica, mas como arma de pressão política”. Uma nova investigação por meio da Seção 301 dos EUA contra o Brasil, focando em regulação digital e outros elementos, é vista como um claro “uso coercitivo das tarifas”.

    Nesse contexto, a recém-aprovada Lei de Reciprocidade Econômica do Brasil, que o presidente Lula ameaçou usar contra os EUA, é vista como uma ferramenta necessária de dissuasão. A estratégia europeia, com suas contramedidas focadas e estratégicas, busca “atingir uma grande quantidade de produtos [americanos] sem prejudicar a nossa indústria”.

    Motivações de Trump: Receita e Eleições

    Bernd Lange sugeriu que as motivações por trás da agressiva política tarifária de Trump vão além das questões comerciais. Ele acredita que o objetivo principal é a geração de receita para financiar o projeto “One Big Beautiful Bill”, que adicionaria US$ 3,3 trilhões à dívida pública americana na próxima década. “No momento, a União Europeia está pagando € 7 bilhões em tarifas para os EUA. E, com essa tarifa-base nova e as tarifas para carros, crescerá para € 100 bilhões por ano. Então, é claro para mim que esse é o objetivo de toda essa operação”, destacou Lange.

    Além disso, a pressão para resolver as disputas rapidamente, com prazos até 1º de agosto, pode estar ligada à preparação para as eleições de meio de mandato no próximo ano, com as consequências econômicas da política de Trump começando a se tornar evidentes para os consumidores americanos.

    A entrevista também expôs a imprevisibilidade das negociações com a administração Trump. Lange relatou que, diferentemente do primeiro mandato, os próprios negociadores americanos não têm autonomia, e as decisões finais são tomadas diretamente pelo presidente, muitas vezes influenciadas por conselheiros como Peter Navarro ou até mesmo por “amigos” pessoais. Essa falta de racionalidade torna o cenário do comércio global ainda mais complexo e desafiador para todos os envolvidos.

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