Os governos do Brasil e dos Estados Unidos mantiveram “conversas reservadas”, nos últimos dias, e negociaram caminhos para evitar que o tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras entre em vigor no dia 1.º de agosto.
Foi a primeira vez que o tom do diálogo saiu do “perde-perde” para o “ganha-ganha”, sem nenhum tipo de implicação no campo jurídico, como definiu o vice-presidente Geraldo Alckmin ao Estadão.
Alckmin se reuniu no sábado, por videoconferência, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick. Os dois também tiveram reuniões virtuais em pelo menos outras duas ocasiões.
“Destaquei que o presidente Lula tem orientado a negociação, sem contaminação política nem ideológica”, disse Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. “Foi uma conversa longa, de aproximadamente 50 minutos”.
Trump e o tarifaço: impasse político e comercial
A promessa de sobretaxa que surpreendeu o Palácio do Planalto e o Itamaraty foi feita em 9 de julho pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
O anúncio de Trump misturou dados comerciais equivocados com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e decisões judiciais contra empresas americanas de tecnologia. Trump prega anistia para o ex-chefe do Executivo.
A situação de Bolsonaro, no entanto, não entrou nas negociações entre Alckmin e o secretário de Comércio dos EUA. Réu na trama golpista, o ex-presidente está usando tornozeleira eletrônica por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Brasil acena com ampliação comercial e investimentos
Na reunião virtual de sábado, o Brasil fez acenos para ampliar “significativamente” os laços comerciais e de investimentos entre os dois países.
Alckmin disse que uma das propostas apresentadas por empresários para dar “materialidade” à meta de expansão dos negócios com os americanos foi dobrar a relação bilateral nos próximos cinco anos.
Os EUA são o segundo país para o qual o Brasil mais exporta, atrás apenas da China. A balança comercial com os norte-americanos teve déficit de US$ 590 milhões em junho e de US$ 1,67 bilhão no primeiro semestre deste ano. Isso significa que a economia brasileira compra mais do que vende para os EUA.
Assim como na lista das exportações, os EUA também ocupam o segundo lugar entre os países dos quais o Brasil mais importa, perdendo somente para a China.
Acordo de bitributação pode facilitar investimentos
O governo Lula também defende que seja firmado um acordo de bitributação, a fim de reduzir a insegurança jurídica e facilitar os investimentos recíprocos.
Esse tipo de acordo é uma antiga reivindicação do setor privado e tem o objetivo de evitar que a mesma renda seja tributada duas vezes, uma em cada país. Na prática, define em qual país um determinado imposto é pago e como esse valor pode ser compensado no outro.
Atualmente, dos dez produtos mais vendidos pelos Estados Unidos ao Brasil, em oito deles a tarifa é zero. Os norte-americanos tentam ampliar essa vantagem.
Mineração estratégica também está no radar
Questionado sobre possíveis negociações com os EUA envolvendo minerais críticos brasileiros, Alckmin afirmou que a pauta de mineração “é muito longa e pode ser explorada e avançada”. O vice-presidente evitou, porém, cravar qualquer cenário de negociação sobre o tema.
“Trata-se de outro setor que exporta para os Estados Unidos apenas 3%, mas importa em máquinas e equipamentos mais de 20%, o que mostra, de novo, enorme superávit na balança comercial (do lado dos EUA)”, destacou Alckmin.
Nesta quinta-feira, 24, o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, voltou a manifestar o interesse norte-americano nos minerais críticos e estratégicos do País, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Solicitado por Escobar, o encontro teve a participação do presidente do Ibram, Raul Jungmann, e do vice-presidente do instituto, Fernando Azevedo, em Brasília.
Minerais críticos são aqueles considerados essenciais para setores estratégicos, como tecnologia, defesa e transição energética. Incluem elementos como lítio, cobalto, níquel e terras raras, fundamentais para baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e semicondutores. A oferta desses recursos está sujeita a riscos de escassez ou dependência de poucos fornecedores.
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