terça-feira, maio 13, 2025
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    Atlas da Amazônia destaca justiça socioambiental e povos da floresta

    Publicação inédita traz 32 artigos de autores indígenas, quilombolas e ribeirinhos, e reforça o papel da Amazônia nos debates sobre clima, território e direitos humanos

    A Fundação Heinrich Böll no Brasil lançou nesta segunda-feira (5) o Atlas da Amazônia Brasileira, uma publicação inédita que reúne 32 artigos escritos por 58 autores e autoras, incluindo 19 indígenas, cinco quilombolas e dois ribeirinhos. O objetivo da obra é desconstruir estereótipos sobre a Amazônia e apresentar uma nova perspectiva da região, baseada nos saberes, desafios e potências vividos por quem habita a maior floresta tropical do planeta.

    O lançamento acontece em um contexto decisivo para a agenda climática global, com a realização da COP30 em 2025 na Amazônia brasileira. O atlas busca ampliar o debate sobre justiça climática e territorial, mostrando que a floresta vai além da biodiversidade: é também um território marcado por intensa diversidade cultural e urbana.

    📘 Clique aqui para acessar a íntegra do atlas

    Segundo a Fundação, 75% da população amazônica vive em áreas urbanas, o que desafia a visão limitada de que a Amazônia é apenas floresta. Para o coordenador de Justiça Socioambiental da fundação e co-organizador da publicação, é fundamental dar protagonismo às populações locais nos debates ambientais e políticos:

    Tem povos e comunidades que há muito tempo trabalham na relação com a natureza, com formas de proteção e preservação ambiental com a construção de um bem viver cada vez mais sustentável. É preciso colocar quem está nos territórios para ter um papel de protagonista nesses debates.”

    Ameaças crescentes à Amazônia e aos seus povos

    O atlas também destaca dados alarmantes sobre os impactos ambientais e sociais recentes na região amazônica. Entre 2019 e 2022, a floresta sofreu com recordes de desmatamento — em grande parte devido à abertura de pastagens para gado. O garimpo ilegal em áreas protegidas cresceu 90%, especialmente em terras indígenas, e a população da Amazônia Ocidental registrada com armas aumentou em 1.020%, impulsionada pelo avanço da extrema direita.

    Em 2022, a Amazônia concentrou mais de 20% dos assassinatos de defensores do meio ambiente no mundo, com 39 ativistas mortos. Já em 2023, o Brasil e o mundo assistiram à crise humanitária no território Yanomami, devastado pelo garimpo ilegal. No mesmo ano, uma seca extrema atingiu a região, secando rios, afetando a navegação, limitando o acesso à água potável e provocando escassez de alimentos.

    O cenário não melhorou em 2024, com nova seca e recorde de focos de incêndio na Amazônia. A fumaça comprometeu a saúde de milhares de pessoas e se espalhou pelas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, ampliando os danos à qualidade do ar.

    Narcotráfico e crimes ambientais: a nova fronteira do crime organizado

    O Atlas dedica um dos artigos ao avanço do crime organizado na Amazônia, assinado por Aiala Colares Couto (UEPA) e Regine Schönenberg (Fundação Heinrich Böll). O texto revela como rotas do narcotráfico cruzam a região amazônica, sendo disputadas por facções como o PCC (São Paulo), Comando Vermelho (Rio de Janeiro), Família do Norte (Amazonas) e Comando Classe A (Pará).

    Segundo os autores, o narcotráfico atua em parceria com crimes ambientais, como extração ilegal de madeira, contrabando de minérios (cassiterita e manganês) e grilagem de terras, que também são usados para lavagem de dinheiro. As facções chegam a aliciar jovens indígenas, e utilizam estradas, rios e até pistas clandestinas em Terras Indígenas para o transporte de drogas.

    O crime organizado não passa por processos burocráticos para agir. A agilidade do crime em suas múltiplas conexões acaba se sobrepondo às ações governamentais”, alerta o pesquisador Aiala, nascido em um quilombo no Pará.

    Amazônia como território de resistência e mobilização

    Apesar das ameaças, o Atlas também ressalta que a Amazônia é palco de forte mobilização social e ambiental. Movimentos sociais, coletivos e organizações vêm atuando ativamente na gestão territorial e na agenda climática. A fundação destaca que a valorização dos modelos de pensamento dos povos tradicionais é fundamental para construir um novo caminho:

    Essa mobilização envolve a valorização dos modelos de pensamento dos povos e comunidades, que constroem relações com o território e seus seres bastante distintas daquelas que guiam os setores responsáveis pelo iminente colapso climático.

    Fundação Heinrich Böll: 25 anos no Brasil

    A Fundação Heinrich Böll é uma organização política alemã, com atuação em mais de 42 países. No Brasil, completa 25 anos de atuação, apoiando projetos da sociedade civil, promovendo debates e produzindo publicações gratuitas. Seu trabalho inclui a defesa dos direitos humanos, promoção da justiça socioambiental, valorização das mulheres e o combate ao racismo.

    Com o Atlas da Amazônia Brasileira, a Fundação reafirma seu compromisso de fortalecer o debate público que una a proteção do meio ambiente à garantia dos direitos dos povos da floresta e do campo, em um momento crucial para o futuro da Amazônia e do planeta.

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