Em depoimento do Hacker Delgatti Neto perante a CPI dos Atos Golpistas revelou informações impactantes sobre um encontro ocorrido em 2022 com o então presidente Jair Bolsonaro. Durante essa reunião, Delgatti Neto alegou que foi informado por Bolsonaro que o governo havia conseguido grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Além disso, o hacker afirmou que Bolsonaro sugeriu que ele “assumisse a autoria” desse grampo. A mediação desse encontro teria sido realizada pela deputada federal Carla Zambelli, do PL-SP.
Segundo Delgatti Neto, Carla Zambelli utilizou um celular para enviar uma mensagem, após a qual o presidente Bolsonaro entrou em contato com ele. Durante essa conversa, Bolsonaro teria compartilhado a notícia de que um grampo, amplamente esperado na época, teria sido realizado no ministro Alexandre de Moraes. O hacker afirmou que esse grampo continha conversas comprometedoras do ministro e que Bolsonaro desejava que Delgatti Neto assumisse a responsabilidade pelo ato.
Essa estratégia, de acordo com o depoimento do Hacker Delgatti, tinha o propósito de evitar contestações por parte da “esquerda”. Isso se devia ao fato de que, anteriormente, o hacker havia hackeado autoridades ligadas à operação Lava Jato, o que lhe conferiu certo prestígio entre os opositores de Bolsonaro. Ele destacou que, naquela época, ele era conhecido como o hacker da Lava Jato e que essa autoria seria menos questionada pela esquerda, uma vez que ele já havia assumido a autoria do vazamento das informações da “Vaza-Jato”.
Delgatti Neto esclareceu também que, conforme relatado por Bolsonaro, o grampo teria sido realizado por estrangeiros. No entanto, ele não teve acesso às supostas conversas grampeadas e não poderia confirmar a existência delas. O hacker afirmou que, em troca de assumir a autoria do grampo, seria prometido a ele um indulto presidencial.
É importante lembrar que Delgatti Neto ganhou notoriedade em 2019 por ter vazado mensagens atribuídas ao então ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro, assim como a membros da força-tarefa da Lava Jato e outras autoridades. Sua presença no Senado foi registrada pouco antes das 9h da manhã.
Recentemente, ele voltou a ser alvo da Polícia Federal devido à invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nesse documento falso constava a frase “faz o L”, um slogan da campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Delgatti Neto afirmou que a redação desse documento falso foi feita pela deputada Carla Zambelli. Com base nisso, seis requerimentos de convocação do hacker foram aprovados, todos propostos por parlamentares da base de apoio do governo, incluindo a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Na noite anterior ao depoimento, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), permitiu que Delgatti Neto invocasse o direito ao silêncio durante a sessão da CPI. A decisão também garantiu que ele pudesse contar com assistência legal e não sofresse constrangimentos físicos ou morais.
Antes de sua ida à CPI, Delgatti Neto foi ouvido novamente pela Polícia Federal, um dia antes. Ele foi preso desde o início de agosto por suspeita de tentativa de invasão à Justiça. A operação da PF, que incluiu buscas e apreensões em endereços de Carla Zambelli, resultou em sua detenção.
Hacker Delgatti alega ter recebido R$40 mil de Zambelli
Durante o depoimento, o hacker alegou que foi contratado por Carla Zambelli para invadir sistemas do Judiciário. Seu advogado, Ariovaldo Moreira, apresentou provas de que ele teria recebido cerca de R$ 40 mil pelo serviço. Delgatti Neto também mencionou que esteve no Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro questionou a possibilidade de invadir as urnas eletrônicas. Essa reunião foi intermediada por Zambelli.
Enquanto era presidente, Bolsonaro criticou repetidamente as urnas eletrônicas e questionou o sistema eleitoral, embora nunca tenha apresentado evidências de irregularidades. Sua tentativa de minar a confiança no sistema resultou na declaração de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A defesa de Carla Zambelli negou as acusações e afirmou que a deputada não praticou conduta ilícita ou imoral.
Lava Jato
O histórico de Delgatti Neto inclui o episódio do vazamento das mensagens da Lava Jato, no qual ele afirmou ter acessado perfis de autoridades ligadas à operação. Em 2019, mensagens atribuídas a Sergio Moro e Deltan Dallagnol foram vazadas. O hacker e outros suspeitos foram presos e libertados, mas Delgatti Neto voltou a ser preso após ser acusado de não cumprir as medidas cautelares. Atualmente, ele enfrenta acusações relacionadas à tentativa de invasão de sistemas do Judiciário.
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