terça-feira, novembro 19, 2024
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    ‘Guerra Civil’ filme com Wagner Moura que alerta sobre polarização política

    Guerra Civil parece não apenas falar de perigos sociais tão profundos, mas também antecipá-los, como os filmes de Garland costumam fazer

    ‘Guerra Civil’ filme com Wagner Moura que alerta sobre polarização política, em um futuro muito próximo, quando Estados separatistas se rebelam contra um governo autoritário nos EUA, helicópteros sobrevoam a capital americana e explosões atingem o monumento Lincoln Memorial.

    Perto da Casa Branca, jornalistas escondem-se dos tiros atrás de veículos militares blindados.

    O diretor do filme, Alex Garland, nos coloca no centro de uma batalha de revirar o estômago e que parece muito real, especialmente à luz da violência no ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.

    No entanto, o “coração” do filme não está na política dos EUA. A trama dinâmica, na verdade, é mais sobre o importante papel dos jornalistas como testemunhas da guerra.

    Lee, uma famosa fotojornalista (interpretada por Kirsten Dunst), começa o filme já parecendo exausta de cobrir conflitos brutais.

    Ela e o repórter Joel (Wagner Moura) têm a expectativa de conseguir entrevistar o presidente (Nick Offerman), que dissolveu o FBI (a polícia federal americana) e ordenou que os militares atacassem cidadãos comuns.

    Em resposta ao seu regime, os Estados rebeldes formaram diferentes alianças, incluindo a improvável parceria Texas-Califórnia nas chamadas Forças Ocidentais.

    À medida que os repórteres viajam pelo país devastado pela guerra, de Nova York a Washington, o argumento de Garland fica claro.

    Um jovem em um posto de gasolina mostra orgulhosamente a Lee os corpos ensanguentados e contorcidos de dois homens que ele pendurou pelos pulsos.

    “Fui para o ensino médio com ele”, diz ele, apontando para um homem. “Ele não falava muito comigo.”

    Homens com equipamento de combate sem identificação disparam contra outros atiradores em uma casa de fazenda.

    “Alguém está tentando nos matar. Estamos tentando matá-los”, diz um deles a Joel, que pergunta incrédulo: “E você não sabe de que lado eles estão lutando?”

    Atirar no outro lado porque é o outro, matar por xenofobia ou simplesmente por despeito – esse é o perigo que Guerra Civil retrata.

    Garland fez um filme de guerra que é antiguerra, um filme político determinado a ser apartidário. Acima de tudo, é um alerta assustador e crível para os EUA e, por extensão, para todos os países.

    “É um filme sobre o produto da polarização e da divisão”, disse Garland à rede de televisão CBS. “A menos que recuperemos o bom senso, nossa situação polarizada, divisiva e não comunicativa continuará”.

    Para transmitir essa mensagem, Garland cria uma eficaz linha de gerações – que talvez seja até organizada demais.

    Sammy (Stephen McKinley Henderson) ocupa o lugar de um sábio repórter mais velho, que avisa Lee e Joel que combatentes estão atirando em jornalistas à primeira vista na capital.

    “Eles nos consideram soldados inimigos”, diz ele.

    Mesmo assim, ele se junta à dupla na viagem em direção a Washington, na esperança de uma última tentativa de fazer uma cobertura.

    Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem e talentosa aspirante a fotojornalista que idolatra Lee, também entra no carro, juntando-se à jornada cada vez mais perigosa.

    Garland torna o futuro pelo qual eles viajam especialmente perturbador e verossímil, porque consegue combinar com grande habilidade o que é familiar e o que é estranho.

    Manifestantes nas ruas de Nova York enfrentando a polícia local são uma cena reconhecível – até que os manifestantes são alvejados pelos militares dos EUA.

    A van branca de Lee e de Joel com “imprensa” escrito na lateral é algo rotineiramente visto por telespectadores norte-americanos em reportagens sobre guerras no exterior.

    E não pode ser coincidência que uma cena se passe numa base militar das Forças Ocidentais em Charlottesville, Virgínia, local onde supremacistas brancos fizeram uma manifestação violenta em 2017. O próprio nome da cidade agora remete à divisões políticas.

    Garland escreveu Guerra Civil em 2020 e reconheceu, no programa de televisão americano The Daily Show e em outras entrevistas, que a violência da cena que se passa em Washington repercute de outra forma após os acontecimentos de 6 de janeiro de 2021.

    Na mesma entrevista ao Daily Show, no entanto, ele enfatizou que o filme não é inteiramente sobre os EUA – que a polarização e o fato das pessoas ignorarem os jornalistas que apontam a verdade são coisas que estão acontecendo no “seu país [EUA], no meu país [Reino Unido], em muitos outros países”.

    Guerra Civil parece não apenas falar de perigos sociais tão profundos, mas também antecipá-los, como os filmes de Garland costumam fazer.

    Os Alertas Visionários de Alex Garland: De ‘Extermínio’ a ‘Ex Machina

    Seu roteiro do filme Extermínio (2002), do diretor Danny Boyle, imaginou uma praga global anos antes da pandemia de covid. No filme, a infecção transforma as pessoas em zumbis, mas ainda assim foi um aviso.

    Há uma década, no elegante Ex Machina, que Garland escreveu e dirigiu, ele tratou da linha tênue entre a inteligência artificial e os seres sencientes, aproveitando para fazer uma crítica aos bilionários da tecnologia.

    Ex Machina é seu filme mais bem concretizado e se mantém atual. Garland rejeitou a ideia de que ele seja “premonitório”, e disse que está apenas observando o mundo.

    Agora ele observa a polarização, e o mundo parece pronto para provar o seu ponto de vista.

    O próprio filme Guerra Civil começou a gerar fortes reações políticas antes que qualquer pessoa do público sequer visse o filme, refletindo o tipo de divisão que Garland descreve de forma tão explosiva. A conversa em torno da produção é quase tão reveladora quanto o que está na tela.

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    Com informações BBC*

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