quinta-feira, outubro 9, 2025
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    PF investiga onda de intoxicação por metanol em SP: 22 casos e 5 mortes suspeitas

    Ministro Lewandowski aciona a Polícia Federal e levanta suspeita de que a distribuição de bebidas contaminadas com o produto químico atinja outros estados

    O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciou nesta terça-feira (30/9) que a Polícia Federal (PF) abriu uma investigação para apurar o aumento de casos de intoxicação por metanol em São Paulo.

    Foram registrados ao menos 22 casos envolvendo contaminação pela substância no Estado — 5 confirmados e 17 em investigação. As autoridades apuram cinco mortes como suspeitas de relação com o metanol, segundo o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva. A principal suspeita é de que as vítimas tenham ingerido bebidas alcoólicas contaminadas.

    Nesta terça, a Vigilância Sanitária e a Polícia Civil de São Paulo fecharam dois bares na capital paulista onde vítimas teriam consumido as bebidas contaminadas — o bar Ministrão, nos Jardins, e o Torres, no bairro da Mooca.

    Em coletiva de imprensa na terça, Lewandowski afirmou que a situação é grave e que é possível que a rede de distribuição dessas bebidas atue também em outros Estados, não apenas em São Paulo. A hipótese de que os episódios tenham envolvimento do crime organizado também deve ser pauta da investigação da PF, segundo as autoridades.

    Detalhes da investigação e alerta de sintomas

    Até agora, o Estado de São Paulo registrou 22 casos de suspeita de contaminação. Cinco pessoas morreram. Até o momento, em apenas um desses casos há confirmação de que a morte se deu após a ingestão de bebida adulterada. Segundo o governo do Estado, todos os casos são de pessoas que, segundo as suspeitas, consumiram bebidas adulteradas na capital.

    Na terça-feira (30/9), uma força-tarefa fez uma ação de fiscalização em três bares da capital paulista localizados nos Jardins, Zona Oeste, e na Mooca, Zona Leste. Foram apreendidas garrafas de bebidas sem rótulos.

    Uma das vítimas com suspeita de intoxicação relatou ao programa Fantástico, da TV Globo, ter perdido a visão após o consumo de três caipirinhas. Outras vítimas também relataram ter perdido a visão e terem sofrido convulsões, problemas nos rins, AVC (acidente vascular cerebral), além de outros sintomas.

    Segundo o UOL, os casos estão ligados ao consumo de diferentes tipos de bebida, como gim, uísque e vodca, compradas em diferentes lugares, como bares e adegas. Ainda não se sabe se o metanol foi adicionado a bebidas falsificadas, ou se é um caso de contaminação durante a produção normal de um destilado — apesar das declarações dadas pelas autoridades até o momento apontarem para a primeira opção.

    Em coletiva de imprensa nesta terça, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Estado começam com a interdição cautelar de todos os estabelecimentos onde houve o consumo. Nos últimos dias, foram apreendidas 50 mil garrafas com suspeita de adulteração. Artur Dian, delegado-geral da Polícia Civil, afirmou que uma operação deflagrada em Americana resultou na prisão de dois indivíduos por suspeita de falsificação.

    Em paralelo, o Ministério da Justiça informou que a PF abriu sua própria investigação para apurar a origem do metanol, com a suspeita de que a distribuição ocorra para além do Estado de São Paulo, segundo Lewandowski.

    Divergência sobre envolvimento do crime organizado

    A suspeita de uma ligação entre a venda de bebidas adulteradas e o crime organizado foi levantada após a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) afirmar em nota que o metanol poderia ser o mesmo importado ilegalmente pela facção Primeiro Comando da Capital (PCC) para “batizar” combustíveis.

    Para a ABCF, o fechamento recente de distribuidoras e formuladoras de combustível ligadas ao crime organizado, que importavam metanol de forma fraudulenta, pode ter feito com que a facção e seus parceiros revendessem o metanol a destilarias clandestinas.

    O governo de São Paulo e a Polícia Federal, porém, divergem sobre o suposto envolvimento do grupo. O diretor-geral da PF, Andrei Augusto Passos Rodrigues, afirmou que o órgão investiga a ligação. Já o governador Tarcísio de Freitas e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), afirmaram que não há “evidência nenhuma” da participação do PCC, apontando o problema como “estrutural” e ligado a fraudadores rotineiros.

    O perigo do metanol e dicas de prevenção

    O metanol é um produto químico industrial, encontrado em fluidos anticongelantes e limpadores de para-brisa. Não se destina ao consumo humano — e é altamente tóxico. Tomar até mesmo pequenas quantidades pode ser prejudicial e doses de bebida alcoólica clandestina com a substância podem ser letais.

    O metanol tem a aparência e o sabor do álcool (etanol), e os primeiros efeitos são semelhantes à embriaguez. O dano acontece horas depois, quando o corpo o metaboliza no fígado, gerando subprodutos tóxicos como o formiato. Eles se acumulam, atacando nervos e órgãos, o que pode levar à cegueira, ao coma e à morte.

    “O formiato, que é a principal toxina produzida, age de forma semelhante ao cianeto e interrompe a produção de energia nas células, e o cérebro parece ser muito vulnerável a isso”, explica Christopher Morris, professor da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.

    A intoxicação é uma emergência médica. O tratamento pode incluir diálise e o uso de álcool (etanol) para “competir” com a metabolização do metanol, mas deve ser feito rapidamente e sob supervisão médica, sendo o álcool comum considerado o antídoto mais importante, se ministrado a tempo.

    Diante dos casos recentes, associações como a Abrasel e a Abrabe compartilharam dicas de prevenção:

    • Faça as compras de bebidas em locais de confiança;
    • Desconfie de preços muito abaixo do mercado;
    • Verifique se o líquido apresenta micropartículas e sujeiras;
    • Exija nota fiscal;
    • Verifique o lacre. Se estiver violado, a bebida pode ter sido adulterada;
    • Rótulos mal colados ou informações borradas são sinais de falsificação;
    • Procure na embalagem o registro do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento);
    • Procure o selo do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) em destilados.

    Recentemente, tragédias envolvendo bebidas alcoólicas adulteradas por metanol ocorreram em países como Rússia (25 mortes), Turquia (160 mortes) e Laos.

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