Uma descoberta científica promissora, publicada na prestigiada revista “Nature Metabolism”, pode estar redefinindo o futuro do tratamento da obesidade. Pesquisadores revelaram o SANA (salicylate-based nitroalkene), um medicamento experimental que se destaca por sua abordagem inédita: estimular o gasto energético do corpo sem interferir no apetite ou no sistema digestivo e nervoso central. Essa característica o diferencia radicalmente das terapias atuais, como os análogos de GLP-1 (princípio ativo do Ozempic), e o posiciona como o primeiro de uma nova classe de drogas antiobesidade.
O SANA, derivado do salicilato (composto orgânico com propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, presente na aspirina), atua diretamente nas células do tecido adiposo, o que popularmente conhecemos como gordura. Em vez de suprimir a fome, ele as incentiva a queimar energia para gerar calor, um processo que resulta na perda de peso.
Colaboração cientifica global com forte contribuição brasileira
A pesquisa foi coordenada por Carlos Escande, do Institut Pasteur de Montevidéu (Uruguai), e contou com a colaboração de renomados pesquisadores brasileiros da Unicamp, USP e UFRJ, com apoio da Fapesp. Essa parceria ressalta a capacidade da ciência brasileira em contribuir para avanços globais de grande impacto.
William Festuccia, professor e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e um dos colaboradores do estudo, explica a importância do SANA: “O peso corporal é determinado pelo balanço entre a ingestão calórica e o gasto calórico. Todos os medicamentos disponíveis para o tratamento da obesidade atuam inibindo a ingestão alimentar. Desta forma, o SANA surge como uma alternativa inédita de redução de peso corporal e adiposidade, por mecanismo que envolve aumento do gasto energético”.
Resultados promissores em animais e testes Iniciais em humanos
Os testes pré-clínicos com animais demonstraram a impressionante eficácia do SANA:
Prevenção do Acúmulo de Gordura: Camundongos que receberam o medicamento SANA juntamente com uma dieta rica em gordura não ganharam peso, enquanto o grupo-controle engordou até 50%.
Tratamento da Obesidade Estabelecida: Em animais já obesos, o medicamento SANA induziu uma perda de cerca de 20% da massa corporal em oito semanas, além de melhorar a glicemia, a sensibilidade à insulina e reduzir a gordura no fígado.
Combate a Disfunções Metabólicas: A substância se mostrou eficaz no combate à resistência à insulina, um fator chave no desenvolvimento do diabetes tipo 2.
A fase 1 do ensaio clínico em humanos, embora focada na segurança e tolerabilidade do composto, também apontou resultados encorajadores, sugerindo perda de peso e melhora da glicemia. Contudo, são necessárias novas fases de estudos para confirmar a eficácia em larga escala.
SANA vs. análogos de GLP-1: Um novo paradigma
A principal diferença entre o SANA e as “canetas” injetáveis para obesidade (como o Ozempic, baseadas em análogos de GLP-1) reside no seu mecanismo de ação. Enquanto os GLP-1 simulam a ação de um hormônio para reduzir o apetite, o SANA não afeta o sistema nervoso central ou digestivo.
Festuccia detalha: “Os análogos de GLP-1 reduzem o peso corporal principalmente pela inibição da ingestão alimentar, mas têm efeitos colaterais como a redução da massa magra e problemas gastrointestinais. O SANA reduziu o peso corporal, aumentando o gasto de energia, sem alterar a massa magra.”
Embora testes preliminares em humanos tenham indicado que o SANA pode ter uma eficiência de redução de peso similar à semaglutida (princípio ativo do Ozempic) no mesmo período, é importante notar que em doses muito altas, o SANA apresentou lesão tubular renal reversível como efeito colateral em animais. A possibilidade de um uso combinado de SANA e GLP-1 também está sendo considerada para estudos futuros, dadas as suas diferentes abordagens.
Próximos passos: O caminho para a aprovação
Para comprovar a eficácia e determinar o real potencial do SANA na perda de peso em humanos, novas fases de estudo são cruciais. Carlos Escande, coordenador da pesquisa, revelou à Agência Fapesp que a fase 2 do estudo clínico, envolvendo um grupo maior de voluntários, deve ser iniciada ainda este ano.
A chegada do SANA representa uma esperança significativa para milhões de pessoas que lutam contra a obesidade, oferecendo uma nova via para o gerenciamento do peso corporal e a melhora da saúde metabólica. A comunidade científica e o público aguardam ansiosamente pelos próximos resultados dessa pesquisa inovadora.
A pesquisa sobre o SANA, foi publicada na revista científica Nature Metabolism. Você pode acessar o artigo diretamente através do seguinte link: Cligue aqui.
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