As Forças Armadas brasileiras entram nesta semana na principal fase da Operação Atlas — um grande exercício conjunto com mais de 8 mil militares coordenado pelo Ministério da Defesa, que reúne Marinha, Exército e Aeronáutica para aprimorar a atuação das Forças Armadas na Amazônia.
O exercício acontece nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima e envolve, segundo o governo, o “deslocamento estratégico de recursos humanos e materiais de diferentes regiões do País para a Amazônia, com o objetivo de fortalecer a capacidade militar de atuação em uma das áreas mais estratégicas do Brasil”. Há também algumas etapas realizadas no Espírito Santo e Goiás.
A operação está acontecendo em um momento de aumento das tensões militares entre Estados Unidos e Venezuela, com repercussão nos demais países da região. Há notícias da presença de aviões e navios militares americanos no Sul do Caribe neste mês. No começo de setembro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria ordenado o envio de dez jatos F-35 para Porto Rico para realizar operações contra cartéis de drogas na região do Caribe, segundo a agência Reuters.
Além disso, há relatos da presença de navios de guerra americanos deslocados rumo ao Caribe, incluindo destróieres de mísseis guiados, um grupo anfíbio, um submarino de propulsão nuclear, além de aeronaves de reconhecimento P-8 e 4,5 mil fuzileiros navais. Os militares dos EUA atacaram barcos com supostos traficantes de drogas, que teriam partido da Venezuela. Em discursos na Assembleia Geral da ONU, os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fizeram alusões à presença americana no mar do Caribe.
Em resposta, o governo da Venezuela ordenou que soldados da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) ensinassem a população das comunidades pobres a usar armas. Na terça-feira (30/9), Trump voltou a falar sobre a Venezuela e respondeu que “vamos ver o que acontece” a um repórter que perguntou sobre ataques mais diretos contra os cartéis. O presidente americano complementou dizendo que, após os ataques no mar, não há mais barcos saindo da Venezuela para levar drogas aos EUA e que agora o país vai se concentrar em combater a chegada dos entorpecentes por terra.
Logística, efetivo e o contexto da crise regional
O governo brasileiro nega que sua operação tenha qualquer relação com as tensões entre Venezuela e EUA, e diz que a Operação Atlas já havia sido programada em 2024 para acontecer este ano. Além do exercício conjunto das forças, o ministério diz que o foco da operação é preparar o apoio à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, que será realizada em novembro em Belém.
“Nós estamos deslocando tropas para fronteiras, pensando na COP 30, pensando em dar uma maior assistência a uma parte da fronteira mais inóspita, mais inacessível. De repente, estourou esse problema. A pessoa [diz] ‘foi lá para ajudar a Venezuela’. [Não] foi lá para não ajudar ninguém”, disse o ministro da Defesa, José Múcio, segundo a Agência Brasil.
Múcio disse que teme que a crise entre Venezuela e EUA possa chegar à fronteira do Brasil. “Estamos preocupados, como eu disse, com a nossa fronteira, para que ela não sofra e não transforme a nossa fronteira numa trincheira. O Brasil é um país pacífico. Nós investimos em armas, nas nossas forças, para defender o nosso patrimônio. Não é de olho na terra de ninguém”, disse. Em dezembro de 2023, o Brasil colocou tropas e diplomatas de prontidão após uma escalada de tensões entre a Venezuela e a Guiana, que disputam o controle da região de Essequibo.
A Operação Atlas foi deflagrada em julho e tem previsão para acabar em outubro. O objetivo da operação é fazer com que os três braços das Forças Armadas executem um exercício conjunto “em um dos cenários mais desafiadores do país, a Amazônia” e “enfrentar na prática os desafios operacionais da região”, segundo o ministério da Defesa. O foco da operação é a “prontidão, integração e defesa” da Amazônia.
Segundo o plano operacional, está prevista a atuação de cerca de 8,6 mil militares. A Marinha vai empregar 4.619 militares, 46 embarcações, 247 meios de Fuzileiros Navais incluindo viaturas blindadas (Astros e Clanf), além de 12 helicópteros. O Exército participará do exercício com 3.607 militares, 434 viaturas leves e pesadas, 40 blindados (Astros, Guarani e Leopardo) e 7 helicópteros. A Força Aérea reunirá 410 militares, 21 aeronaves (transporte, patrulha, caça e helicóptero), além de 3 satélites.
“Essa operação nos habilita a que nós avaliemos essas capacidades de deslocamento das nossas forças para qualquer local do país. Em especial estamos testando agora no teatro amazônico que é o local mais difícil para se fazer essa mobilidade”, diz o almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.
A operação acontece em três fases:
- Fase 1 — Planejamento integrado (30 de junho a 11 de julho): Ocorreu na Escola Superior de Defesa, em Brasília, definindo procedimentos de deslocamento, comando e controle.
- Fase 2 — Deslocamento estratégico (27 de setembro e 1 de outubro): Período de movimentação de pessoal e equipamentos militares para a Amazônia e a região marítima da foz do Amazonas.
- Fase 3 — Exercício no terreno (2 a 11 de outubro): A fase do exercício em si, que ocorre diretamente no terreno, abrangendo os estados da área, com a execução de ações táticas integradas em ambientes terrestre, fluvial, marítimo e aéreo.
“O mais comum é cada força praticar separado o seu trabalho, mas a função da Defesa é justamente integrar isso”, afirma o general de divisão Júlio César Palú Baltieri, subchefe de Operações Internacionais do ministério da Defesa.
Para a Operação Atlas, a Força Aérea destacou três aeronaves de caça A-1M, do Rio Grande do Sul, que se deslocaram para Boa Vista. Há também aeronaves A-29 Super Tucano, ideal para cenários irregulares por sua maior capacidade de permanência. Em setembro, foi realizado no Campo de Instrução de Formosa, em Goiás, um teste de armamentos, dentro de uma etapa chamada de Atlas Armas Combinadas. Foram testados armamentos como o míssil antiaéreo Mistral, o míssil anticarro 1.2 AC MAX (tecnologia 100% brasileira) e o drone kamikaze, primeira aeronave de ataque remotamente pilotada das Forças Armadas.
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