terça-feira, julho 22, 2025
More
    InícioAmazonasMilitares veem risco à soberania da Amazônia com Trump e alertam para...

    Militares veem risco à soberania da Amazônia com Trump e alertam para escalada geopolítica dos EUA contra o Brasil

    Oficiais da ativa e da reserva analisam sanções dos EUA e temem que a retórica de Trump transforme o Brasil em alvo geopolítico, com foco na Amazônia e no Brics

    Era 12 de abril quando o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Peter Hegseth, afirmou: “Vamos recuperar o nosso quintal”. Referindo-se à América Latina, a fala indicava uma guinada estratégica dos EUA na região, após o que ele classificou como omissão das administrações anteriores, permitindo que a China consolidasse relações comerciais que, em sua visão, ameaçam a hegemonia americana.

    O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth — Foto REUTERS Yves Herman
    O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth — Foto REUTERS Yves Herman

    O impacto foi imediato. No Panamá e na Colômbia, os primeiros reflexos surgiram. No Brasil, no entanto, elites políticas, governo e oposição reagiram com apatia, como se o alerta não lhes dissesse respeito.

    Como dizia o historiador francês Marc Ferro, “não há seguro contra a história”. E os sinais estavam diante de todos: a radicalização política nos EUA, a tensão na OTAN, o rearmamento europeu, os embates com o Canadá, as tarifas unilaterais contra China, União Europeia, Japão, México, África do Sul — e agora, contra o Brasil.

    Sanções com motivação ideológica e uso da Amazônia como retórica

    Em questão de dias, o governo americano impôs sanções econômicas ao Brasil, em meio ao processo judicial de Jair Bolsonaro, agindo, segundo analistas, como se cobrasse uma “taxa de proteção”, como fazem organizações mafiosas. Um episódio que vai além de Bolsonaro e revela um embate ideológico mais amplo, com implicações para a soberania brasileira, especialmente na Amazônia.

    Um ponto chamou atenção: Donald Trump, que nunca se alinhou à pauta ambiental, usou o desmatamento da Amazônia como justificativa para as sanções. Um gesto incomum, segundo generais brasileiros, que interpretam o movimento como estratégico — e não como preocupação real com o meio ambiente.

    No Quartel-General do Exército, o tema foi discutido com seriedade. “Não é a bandeira dele”, disse um general à reportagem. A instrumentalização da Amazônia seria, na visão dele, uma cartada geopolítica que ameaça a política externa brasileira e enfraquece o Brics, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

    Militares projetam risco crescente de ingerência externa

    A reportagem ouviu 2 coronéis e 12 generais da ativa e da reserva. A maioria vê com preocupação a possibilidade de os EUA, em um cenário mais agressivo, questionarem a soberania brasileira sobre a Amazônia — algo que, embora considerado “distante” por alguns, não é descartado por nenhum dos entrevistados.

    Exemplo usado: no início de seu mandato, Trump pressionou o Panamá a romper contratos com a China. Mesmo após o rompimento, voltou a questionar a soberania panamenha sobre o Canal.

    “As grandes potências nunca deixaram de cobiçar a Amazônia. A questão é saber quando vão tentar agir diretamente”, afirmou um general da reserva.

    Amazônia como ponto estratégico e o erro do alinhamento automático

    Os militares alertam: o Brasil não possui estrutura de poder para jogar o jogo das grandes potências. O alinhamento automático com China e Rússia no contexto do Brics é visto como arriscado, principalmente quando os EUA voltam a enxergar a América Latina como zona de influência exclusiva.

    “Trump age como empresário. Para ele, soberania nacional é secundária. Se for conveniente, ele pisa”, afirmou um oficial.

    A instrumentalização da questão ambiental pode ter múltiplos objetivos: enfraquecer o Brics, sabotar a COP-30, pressionar o governo Lula e criar um ambiente favorável a uma mudança de regime. E, como apontou um general, “é mais barato ter aliados do que fazer guerra direta”.

    A ameaça invisível e o risco de um conflito indireto

    Além da pressão econômica, há o receio de ações indiretas. Um dos generais acredita que os EUA podem “fortalecer um vizinho como a Argentina” para colocar o Brasil sob pressão. Outros destacam que o Exército já vem monitorando a situação na Venezuela, especialmente na região do Essequibo, onde há tensão fronteiriça com a Guiana.

    Os militares também enfatizam que a Amazônia segue negligenciada pelo poder público, com sérios problemas de infraestrutura, saúde, saneamento e segurança. Esse vácuo de presença do Estado seria um prato cheio para narrativas externas de tutela internacional sobre a floresta.

    “O que era impensável há um ano agora se torna possível”, disse um coronel. “A imprevisibilidade geopolítica é total. Não dá para descartar praticamente nada.”

    Um peão no tabuleiro global?

    O contexto internacional está cada vez mais instável. A lógica da “área de influência” americana volta à cena. Trump, segundo os militares, vê o Brasil não como parceiro, mas como um peão em um jogo maior de confrontação com China e Rússia.

    A posição majoritária dos oficiais ouvidos é clara: o Brasil não deve ceder a pressões externas, mas precisa atuar com inteligência e pragmatismo, evitando posturas ideológicas extremas que o coloquem em rota de colisão com grandes potências sem ter poder real para se sustentar.

    “O problema não é só a Amazônia, é o Brasil todo”, resumiu um general de quatro estrelas. “Tempos difíceis virão, e só estadistas — que hoje faltam — poderão lidar com eles à altura.”

    Lei também:

    Alinhamento de Lula ao Brics aproxima sanções dos EUA e pode custar caro ao Brasil, diz análise

    Siga nossas redes sociais Instagram, YoutubeTikTok e Facebook

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Últimas Notícias