O senador Omar Aziz (PSD-AM) foi um dos alvos da espionagem ilegal promovida por uma estrutura paralela dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), enquanto presidia a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, entre abril e outubro de 2021. A revelação consta em relatório da Polícia Federal (PF) que investiga o uso indevido do sistema de geolocalização First Mile pela chamada “Abin Paralela”, braço clandestino que teria atuado a serviço do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O documento, que teve o sigilo levantado por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aponta que a espionagem teve como alvo autoridades públicas, jornalistas e opositores políticos com o objetivo de colher informações comprometedoras e alimentar campanhas de desinformação nas redes sociais.
Espionagem mirou parlamentares da CPI da Covid
Além de Omar Aziz, também foram monitorados os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Alessandro Vieira (MDB-SE), todos com atuação de destaque na CPI que investigou a condução do governo federal durante a pandemia de Covid-19. Segundo a PF, o objetivo era municiar apoiadores do governo com dados que pudessem descredibilizar os parlamentares e enfraquecer os trabalhos da comissão.
No caso de Omar Aziz, a estrutura clandestina da Abin identificou a contratação da empresa Caravelas Consultoria e Comunicação Ltda., pertencente ao jornalista Otávio Cabral, por R$ 30 mil. Cabral é casado com a jornalista Vera Magalhães, também listada entre os alvos de espionagem.
A informação sobre o contrato foi publicada nas redes sociais pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e amplificada pelo perfil @VeritasBureauBR, apontado no relatório como parte da rede de desinformação que apoiava o grupo.
Relatório da PF aponta uso político de dados obtidos ilegalmente
De acordo com o relatório da Polícia Federal, os dados extraídos ilegalmente pela “Abin Paralela” eram repassados para integrantes do núcleo político ligado ao então governo Bolsonaro.
“O resultado das ações clandestinas produzidas pelo núcleo da estrutura paralela que se apropriou da Abin era devidamente aproveitado por pessoas relacionadas ao núcleo político”, destaca o documento.
Ainda segundo a PF, o grupo cogitou espionar o então vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PT-AM), mas não há confirmação se a ação foi concretizada.
Ataques a parlamentares e jornalistas
O relatório revela que a rede paralela também criou e operou perfis falsos ou cooptados para disseminar conteúdo distorcido e difamatório. Um dos exemplos foi o senador Alessandro Vieira, que passou a ser atacado após defender a convocação do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) pela CPI, o que acabou não acontecendo.
Além dos parlamentares, diversos jornalistas e veículos de checagem foram monitorados. Entre eles estão Vera Magalhães, Mônica Bergamo, Luiza Alves Bandeira, Pedro Cesar Batista, e integrantes das agências de fact-checking Lupa e Aos Fatos.
Ministros do STF também foram alvos da “Abin Paralela”
O escopo da espionagem ilegal se estendeu também ao Poder Judiciário. O relatório da PF cita que ministros do STF foram monitorados, incluindo Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso.
No Poder Legislativo, além dos senadores da CPI, os deputados Kim Kataguiri (União-SP), Rodrigo Maia (PSDB-RJ) e Arthur Lira (PP-AL) também foram alvos da rede de espionagem.
Operação da PF prende envolvidos na estrutura clandestina
Na quinta-feira (11), a Polícia Federal deflagrou uma operação para prender integrantes da rede clandestina. Foram cumpridos quatro mandados de prisão e sete de busca e apreensão nas cidades de Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
Foram presos os servidores públicos Mateus de Carvalho Sposito, Richards Dyer Pozzer, Marcelo Araújo Bormebet e Giancarlo Gomes Rodrigues. Rogério Beraldo de Almeida está foragido.
A PF conclui que a estrutura paralela utilizou o sistema First Mile para produzir dossiês, rastrear deslocamentos por meio de dados de celulares e monitorar milhares de pessoas, incluindo autoridades dos Três Poderes e cidadãos comuns.
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