terça-feira, março 11, 2025
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    Discurso de Trump no Congresso: principais destaques e polêmicas

    Trump delineou os principais objetivos de seu segundo mandato, reforçando que "O sonho americano é imparável"

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez seu primeiro discurso em uma sessão conjunta do Congresso desde que retornou ao poder. Em uma fala de uma hora e 40 minutos, a mais longa da história, Trump delineou os principais objetivos de seu segundo mandato, reforçando que “O sonho americano é imparável”. Ele foi vaiado pelos democratas e aplaudido pelos republicanos presentes.

    Posições polêmicas: comércio, Groenlândia e Ucrânia

    Durante o discurso, Trump abordou temas polêmicos, como a guerra comercial com o México, Canadá e China, além de propor tarifas recíprocas aos parceiros comerciais, incluindo o Brasil. Ele também reafirmou seu interesse na Groenlândia e mencionou uma carta do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, sinalizando uma possível negociação de paz.

    1. Guerra comercial e impacto no Brasil

    Trump falou sobre a guerra comercial que ele iniciou esta semana, incluindo tarifas de 25% sobre o México e o Canadá, e mais 10% sobre as importações chinesas.
    Após dias de turbulência nos mercados, que receberam mal as medidas, Trump minimizou as potenciais consequências econômicas da guerra comercial.
    No momento em que ele tocou no assunto, Trump foi menos aplaudido no Congresso. Muitos republicanos permaneceram sentados — um sinal de que as tarifas de Trump dividiram o partido.
    “As tarifas são sobre tornar a América rica novamente e tornar a América grande novamente”, disse Trump.
    “E está acontecendo. E vai acontecer bem rápido. Haverá uma pequena perturbação, mas estamos bem com isso. Não será muito.”
    Trump fez uma menção ao Brasil: “Em média, a União Europeia, China, Brasil, Índia, México, Canadá e inúmeras outras nações nos cobram tarifas muito mais altas do que cobramos deles, o que é extremamente injusto”.
    Trump disse que tarifas recíprocas aos parceiros comerciais dos EUA entrarão em vigor em 2 de abril.
    “No dia 2 de abril, entram em vigor tarifas recíprocas, e qualquer tarifa que nos impuserem, nós também imporemos a eles… qualquer imposto que nos cobrarem, nós os taxaremos. Se usarem barreiras não monetárias para nos manter fora de seus mercados, então usaremos barreiras não monetárias para mantê-los fora do nosso mercado”.

    2. Interesse na Groenlândia

    Trump disse no discurso: “Esta noite também tenho uma mensagem para o povo incrível da Groenlândia”.
    “Apoiamos fortemente o seu direito de determinar seu futuro. E se escolherem fazer isso, nós os receberemos nos Estados Unidos”, disse Trump, em um aceno aos 56 mil habitantes do país, a maioria do povo Inuit.
    A ilha, a maior do mundo, é um território autônomo da Dinamarca.
    Em outras ocasiões, Trump havia dito que a Dinamarca deve desistir de interferir no território para, em suas palavras, “proteger o mundo livre”.
    Ele voltou a falar sobre o assunto no discurso no Congresso.
    “Precisamos da Groenlândia para a segurança nacional e até mesmo para a segurança internacional. Estamos trabalhando com todos os envolvidos para tentar obtê-la. Realmente precisamos dela para a segurança global e acho que vamos obtê-la. Vamos obtê-la de um jeito ou de outro”, disse ele no Capitólio.
    “Nós os manteremos seguros. E os faremos ricos.”
    A Groenlândia é de importância estratégica para os EUA, pois fica na rota mais curta para a Europa. Além disso, contém reservas significativas de minerais e petróleo.

    3. Ucrânia e suspensão de ajuda militar

    Trump disse que recebeu uma “carta importante” do líder da Ucrânia no início do dia, que parecia corresponder ao que Volodymyr Zelensky postou publicamente nas redes sociais.
    O presidente da Ucrânia disse que estava pronto para trabalhar sob a “forte liderança” de Trump para acabar com a guerra e “ir à mesa de negociações o mais rápido possível para trazer uma paz duradoura mais perto”.
    “Agradeço que ele tenha enviado esta carta”, disse Trump aos parlamentares americanos.
    Zelensky aceitou os termos americanos um dia depois de Trump suspender toda a ajuda militar ao sitiado aliado dos EUA.
    Isso ocorreu após uma reunião acalorada na Casa Branca na semana passada, quando os dois líderes discutiram diante das câmeras de TV, antes de cancelar os planos de assinar um acordo de minérios que permitiria aos EUA lucrar com uma parceria econômica envolvendo os recursos naturais da Ucrânia.
    Analistas diziam que Trump esperava anunciar durante seu discurso ao Congresso que o acordo havia sido finalmente fechado. Mas isso não aconteceu.

    Agradecimento a Elon Musk e políticas de corte de gastos

    Trump fez uma menção especial ao bilionário Elon Musk, que estava assistindo da galeria, no início de seu discurso.
    Musk lidera a força-tarefa do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) que demitiu dezenas de milhares de servidores públicos e cortou bilhões de dólares em ajuda externa e em programas em todo o governo federal.
    O empresário da SpaceX e da Tesla, vestindo um terno escuro com uma gravata azul, levantou-se para receber aplausos da plateia de parlamentares.
    “Obrigado, Elon”, disse o presidente. “Ele está trabalhando muito duro. Ele não precisava disso.”
    Trump continuou listando alguns exemplos de gastos desnecessários que ele disse terem sido eliminados pela iniciativa de corte de custos de Musk, provocando risos dos republicanos.
    “Oito milhões de dólares para promover LGBTQI+ na nação africana de Lesoto, da qual ninguém nunca ouviu falar”, disse Trump.
    Os parlamentares democratas seguraram cartazes dizendo “Musk rouba” e “mentira”.
    O Doge afirma já ter economizado US$ 105 bilhões, mas esse número não pode ser verificado de forma independente. Dados foram publicados mostrando economias de US$ 18,6 bilhões, mas erros contábeis foram relatados por veículos de imprensa dos EUA que analisaram os números.

    Reações do congresso e protestos democratas

    Nos primeiros cinco minutos do discurso, o deputado democrata Al Green, do Texas, foi escoltado para fora da Câmara após se recusar a cumprir as exigências do presidente da Câmara de parar de importunar o presidente, tomando seu assento.
    Enquanto Trump falava, outros democratas seguravam cartazes dizendo “Isso é mentira”.
    Com os republicanos no controle da Casa Branca, Câmara dos Representantes e Senado, os democratas ainda não têm uma liderança clara no partido para tentar conter a onda de medidas do governo Trump.
    Muitas mulheres democratas chegaram à Câmara vestindo terninhos rosa em protesto. Dezenas de seu partido — algumas delas usando as palavras “Resista” impressas nas costas de suas camisas — deixaram a Câmara durante o discurso do presidente.
    “Não há absolutamente nada que eu possa dizer para fazê-los felizes”, disse Trump, aparentemente feliz com o rancor dos democratas.
    A liderança democrata escolheu Elissa Slotkin — senadora de primeiro mandato do Michigan, Estado em que a vitória eleitoral de Trump foi relativamente apertada — para entregar a resposta oficial do partido às políticas do governo.
    Ela acusou Trump de uma “doação sem precedentes para seus amigos bilionários” e alertou que “ele poderia nos levar direto para uma recessão”.

    Imigração e homenagens

    Durante o discurso, Trump anunciou que renomeou um refúgio de vida selvagem do Texas em homenagem a uma garota de Houston que foi supostamente morta por imigrantes indocumentados.
    Jocelyn Nungaray, de 12 anos, foi encontrada morta em junho de 2024 após ser dada como desaparecida. Alexis Nungaray, sua mãe, foi convidada pela primeira-dama Melania Trump a assistir ao discurso do presidente.
    Na sua posse, em janeiro, Trump prometeu que seu governo começaria a deportar “milhões e milhões” de imigrantes com antecedentes criminais.
    O número de migrantes cruzando ilegalmente a fronteira sul caiu no mês passado para o menor nível em pelo menos 25 anos.
    Mas o presidente republicano teria ficado frustrado com o ritmo das remoções, que até agora não conseguiram superar os números de deportados durante o último ano de seu antecessor, Joe Biden.

    Inflação e preços dos ovos

    O aumento do custo dos ovos tem sido manchete nas últimas semanas nos EUA. E Trump — que prometeu aos eleitores que acabaria com a inflação — deixou claro quem ele considerava responsável.
    “Como vocês sabem, herdamos, da última administração, uma catástrofe econômica e um pesadelo de inflação”, disse Trump.
    “Joe Biden, especialmente, deixou o preço dos ovos sair do controle — e estamos trabalhando duro para baixá-lo novamente.”
    Os preços dos ovos dispararam sob Biden, pois seu governo ordenou que milhões de aves fossem abatidas no ano passado em meio a um surto de gripe aviária. Os preços continuaram subindo no começo da presidência de Trump.
    A inflação anual subiu ligeiramente para 3% no mês passado, mas bem abaixo do pico de 9,1% em 2022.
    Apenas um em cada três americanos aprova a forma como Trump lida com o custo de vida, de acordo com uma pesquisa da Reuters/Ipsos divulgada na terça-feira.

    *Com informações: BBC

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